Depoimento: Eu, corretor de seguros

Depoimento: Eu, corretor de seguros
Geraldo M. Tomas
Consultoria e Corretagem de Seguros

Sou um profissional que ao longo dos últimos 40 anos, agi com dedicação e orgulho no trato dos interesses legítimos de meus clientes, os quais se tornaram amigos de longa data.

Passei a conhecer até particularidades dos segurados, resultante da relação de confiança que a minha profissão exige e promove.

Nunca fui um vendedor de contratos.

Sempre me arvorei de um ferrenho defensor do Código de Defesa do Consumidor, mesmo antes deste ser estabelecido.

Sou aquele que sai em atendimento ao cliente, a qualquer hora do dia ou da noite, independente se final de semana ou feriado. É o momento crucial, uma situação em que nem todas as pessoas têm discernimento e serenidade, a depender dos infortúnios. Sou o apoio que pode mitigar os transtornos.

Vi e aceitei,  tácita e inocentemente, a paulatina transferência de atos por parte das companhias seguradoras, desde a manutenção de sistemas de comunicação, a angariação, a impressão de documentos e Condições Gerais, o atendimento a sinistros, a imposição de metas, a guarda de documentos, agendamentos de serviços, realização de vistorias, atuação nas cobranças e, como “cereja do bolo”, a recuperação de comissões por cancelamentos alheios à nossa gestão, mesmo com a intermediação já realizada.

Fui imputado até da obrigação de esclarecer ao consumidor, pormenorizar, detalhar tudo o que envolve o contrato, em obediência ao CDC, já que as seguradoras não cumprem tal papel. E olha que a relação de consumo de fato, é entre segurado e seguradora.

Fui vítima da diferenciação de preços num esmo desenho contratual, numa única companhia, a depender do corretor que estivesse orçando. O mesmo “produto” com preços diferentes.

Fui responsabilizado à força de interesses, passando a ser co-segurador enquanto as comissões “adicionais” tão em voga atualmente, mas ainda assim comissões de corretagem, são derivadas do resultado e do mix de carteiras individuais. Corretor cujos negócios oferecem menos sinistros e produzem mais, ganham mais.

Ainda sofro com gerentes de agencias bancárias vendendo seguros a preços menores, num perfeito exercício ilegal de profissão técnica.

Passei a me indignar com a promoção de concorrência entre corretores de seguros, mais do que entre companhias seguradoras, o que causou intencionalmente, o achatamento das comissões.

Sofri com os sistemas inoperantes  em momentos cruciais de aportar contratos de interesse dos consumidores, cujos riscos não cessaram em razão da intermitência dos sistemas disponibilizados pelas companhias seguradoras.

Não entendi como, do dia para a noite, a habilitação profissional deixou de ser o fundamento para exercer a atividade, vez que as seguradoras é que, ao fim, definem quem opera com seus modelos contratuais ou não. Sou do tempo em que um corretor habilitado apresentava a proposta e seus documentos, sendo prontamente acatado.

Ademais, sou obrigado por Lei, a oferecer ao consumidor o que de melhor se adeque às suas necessidades. Mas como fazer isto, se não tenho acesso a TODAS as companhias e suas particularidades contratuais? A habilitação emitida pelo Estado, como uma concessão, deveria permitir acesso a toda e qualquer seguradora que opere no País, automaticamente, com cruzamento de dados.

Calejei meus dedos e o meu raciocínio diante do fato de que a dinâmica sobrepujante passou a ser aquela dos sistemas, métodos e tempo das companhias, mas não a do cotidiano das pessoas e empresas.

Passei a ser altamente responsabilizado pela guarda e segurança de dados e documentos dos clientes.

Suportei as diferentes formas de inserção de dados nos sistemas das seguradoras, os quais, sem padrão algum, todos derivados de vínculos eletrônicos, me deixam à mercê de redigitar códigos diversos, cada um de uma forma a depender da companhia, como ponto e ífen, sem ponto e com ífem, sem ponto e sem ífem, sem CTRLC/CTRLV num mundo de documentos digitalizados. Não há um padrão “tipo ABNT” para trânsito de dados.

Voluntaria e profissionalmente, assumi as responsabilidades, tanto as apregoadas, tanto as veladas porém perigosas,  quanto as estabelecidas em Lei.

Este insumo, responsabilidade, é difícil de mensurar monetariamente.

Nada, nenhuma parcela dos aumentos de atribuições e delegações, veio acompanhada de remuneração proporcional que permitisse a subsistência, a manutenção de estruturas e rotinas e, importantíssimo,  SUBSÍDIO DA RESPONSABILIDADE E DO TRABALHO.

Com o fim da “comissão oficial” que vigorava, foi aberto um novo campo de batalha, fratricida.

Mas a responsabilidade e o trabalho aumentaram.

Agora vejo o ensaio de mais uma intentona com um viés que não entendo, a intenção de estampar nas apólices o ganho na corretagem de seguros, como insumo de precificação.

Querem, depois de tudo, me transformar no vilão do relacionamento.

De fato, a comissão de corretagem é despesa operacional das companhias, segundo o plano de contas estabelecido.

Ora, o sinistro também é despesa operacional. Porque não o inserir na apólice ?

O segurador tem gestão atuarial dessa despesa operacional, controlando critérios e ajustando a receita de prêmios para que haja seu equilíbrio.

Volto aos riscos dos corretores de seguros. Eles existem e são previstos em Lei.

São muito superiores aos percentuais de comissão e até aos prêmios dos contratos, porque não ?

Não tenho como gerir minhas receitas e despesas operacionais para que consiga um respaldo adequado aos riscos. Não.

Sequer um seguro de RC profissional específico tem o condão de me respaldar, dada a grandeza do interesse ou coisa segurada que eventualmente pode ser exigido do corretor por sua imperícia na formalização do contrato.

Então vivo com a pressão de não cometer erros. Isto é monumental, enquanto extrapola o conhecimento técnico que auferi.

E querem achatar a remuneração? Porque a implementação da idéia levará a isto, sem dúvidas.

Não tenho interesse em reduzir a responsabilidade profissional, concomitante e proporcional à diminuição da comissão. Não é isto.

Não percebo que a intenção é esta também.

Mas certamente que irei me sentir constrangido, senão também questionado.

Afinal, quem ganhará com a inserção da comissão nas apólices ?

Aqueles que praticarem ínfimos, o indesejável e pernicioso canibalismo ?

Aqueles que vendem sem compromisso de atuar verdadeiramente no momento de executar os direitos previstos nas apólices ou até mesmo na adequação consultiva daquilo que se está garantindo? Estes, meros vendedores de contratos.

Repito não sou e nunca fui mero vendedor de seguros.

Quem se arvora de conhecer mais o meu cliente, do que eu ?

Porque o interesse de jogar na lixeira a LEALDADE que permeia minha atuação ?

Artificializar relacionamentos não é o melhor dos caminhos, pois a venda pela venda é má conselheira e o lado hipossuficiente acaba comprando gato por lebre.

Transformará a relação de consumo que hoje é quase familiar, num verdadeiro inferno dantesco, inundado por ações judiciais decorrentes das inevitáveis frustrações de expectativas.

E eu, corretor de seguros, estarei  penalizado com as consequências, todavia alijado de poder ajudar na forma para a qual sempre me preparei  e da qual sou devoto.

Que as autoridades expliquem as razões, as previsões,  e interesses.

Que nossos legisladores percebam tudo o que poderá ser tomado do consumidor e que não haverá reposição. Haverá sim, perda catastrófica.

Não sou o vilão dos preços, mesmo que em algum momento tentem estabelecer essa inverdade.

Continuarei Corretor de Seguros, porém honesto para com aquele que sustenta toda a indústria do Seguro, o que precisa ser o mais importante elo: O CONSUMIDOR.

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