Em entrevista exclusiva à SND, Regina Lacerda, CEO da Rainha Seguros, presidente do Clube das Executivas de Seguros de Brasília (CESB) e embaixadora da Sou Segura, conta como ingressou no setor e a sua trajetória até se tornar referência na luta por um mercado com maior equidade de gênero.
Seguro Nova Digital – Você ingressou no mercado de seguros em 1988 na SASSE Seguros, seguradora da Caixa Econômica Federal que hoje é Caixa Seguros. O que te levou a entrar nesse segmento?
Regina Lacerda – A busca pelo novo, o desafio e uma melhor remuneração. Eu era muito jovem, tinha um filho de 2 anos para criar e estava recém separada. Tinha um emprego estável como servidora pública, mas estava em início de carreira. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal me oferecia estabilidade, mas o salário era baixo e não tinha plano de saúde.
Além disso, achei fascinante poder influenciar na proteção da vida e do patrimônio das pessoas. Encarei como um desafio, um orgulho e uma grande responsabilidade que eu poderia fazer. Então, topei! Foi a decisão mais acertada da minha vida.
S.N.D – Foi questão de tempo para que abrisse a Rainha Seguros. Quando e como você entendeu que poderia empreender no mercado segurador?
R.L – A vida é feita de oportunidades. Elas batem à sua porta, te convidam, te atraem. Um curso para corretor de seguros oferecido pela FUNENSEG, hoje ENS – Escola de Negócios e Seguros, em Brasília, foi a minha oportunidade. Naquela época os cursos eram ministrados apenas no Rio de Janeiro. Eu estava concluindo minha segunda graduação, pedagogia, mas precisei abrir mão no último semestre para fazer o curso que durou um ano. Com a experiência adquirida na SASSE e o curso finalizado não tive dúvidas que queria atuar como corretora de seguros. Dei entrada na Junta Comercial do DF no dia 21 de dezembro de 1989, em homenagem à minha mãe, no dia do seu aniversário.
S.N.D – Conte um pouco sobre quais carteiras sua empresa atuava no início.
R.L – Logo de início me identifiquei com os seguros patrimoniais. A SASSE havia criado um bilhete de seguro residencial e atuava também nos seguros empresarial e condominial. Me apaixonei pela possibilidade de proteger o patrimônio das pessoas. À época, usávamos manuais com tabelas para enquadrar os riscos. Era o L.O.C. (localização, ocupação, construção).
Então, estruturei minhas vendas, os produtos e me dediquei a encontrar nichos de mercado onde pudesse atuar. Na década de 1990, houve um grande movimento imobiliário em Brasília com a venda de imóveis funcionais. Identifiquei um nicho enorme de negócios, uma vez que Brasília é a cidade dos prédios. Mapeei os edifícios que estariam sendo vendidos e visitei um por um. Participava da reunião para constituição do condomínio e oferecia o seguro predial, que é obrigatório por lei. Percebi que não havia ninguém atuando nesse ramo. Minha empresa começou a crescer. Começamos a vender uma quantidade enorme de apólices, além de atuar em outros ramos de seguros. Me tornar especialista nesse segmento fez toda diferença.
S.N.D – Você hoje é uma liderança reconhecida no mercado pelo seu posicionamento a respeito da participação da mulher no desenvolvimento desse setor. Quando você entendeu que isso era uma bandeira que deveria ser levantada?
R.L – Eu costumo dizer que não fui eu que encontrei a bandeira da mulher, foi ela que me encontrou. Começou em 1993, quando a FUNENSEG me encontrou no pequeno universo feminino de seguros do Brasil. Fui convidada a participar da campanha Seguro, Uma Vocação da Mulher. Essa iniciativa, protagonizada por quatro corretoras, incentivava mulheres a entrarem no curso de corretor de seguros para atuar na profissão.
A visibilidade proporcionada com a publicação da campanha e o reconhecimento vindo da ENS alavancaram minha carreira. Sinto um orgulho enorme de ter sido protagonista na defesa da atuação feminina no mercado de seguros, ainda tão jovem, mesmo sem entender bem, à época, da importância dessa bandeira. E assim, chegaram inúmeras oportunidades de atuar nessa causa tanto em âmbito profissional como social e político.
Hoje minha maior motivação é Elisa, minha neta, uma linda italianinha de um aninho, que veio para desconstruir tudo o que eu tinha como certo sobre mulheres e reconstruir com um olhar responsável, maduro e totalmente comprometido com o mundo que vamos deixar para ela e para todas as meninas da sua geração.
S.N.D – Cada vez mais se debate sobre a liderança feminina não só no mercado segurador, como também em todos os segmentos empresariais. Diante desse aspecto, como você analisa a evolução do segmento?
R.L – Sim, há um debate cada vez maior sobre equidade de gênero, presença e liderança feminina nos espaços corporativos. Isso é um muito bom. Mas, na verdade, há poucas ações concretas para mudanças. No cenário da pandemia as mulheres foram as mais prejudicadas. Elas foram afetadas de forma desproporcional.
Durante os lockdowns as mulheres passaram mais tempo em casa, e a violência doméstica aumentou 40% em alguns países durante esses períodos. Em outros, caíram drasticamente, indicando que as mulheres podem ter enfrentado novas barreiras para buscar ajuda.
A sociedade não pode prescindir do trabalho das mulheres. O cenário de regressão na igualdade de gênero devido à pandemia, sem que nada seja feito para tentar revertê-lo, pode impedir o Produto Mundial Bruto de crescer US$ 1 trilhão em 2030, de acordo com a estimativa da McKinsey. Em contrapartida, agir agora para melhorar as oportunidades entre os sexos acrescentaria US$ 13 trilhões à economia global.
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S.N.D – Recentemente, você participou do livro Mulheres no Seguro, que hoje é uma obra referência sobre esse tema no mercado. Conte como foi essa experiência.
R.L – O poeta cubano José Martí disse certa vez que há uma coisa que uma pessoa deve fazer na sua vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Ele sugere que em sua passagem pela Terra você deixe suas heranças para o mundo, a sua marca na história.
Escrever minha história, vivida nesses 32 anos no mercado de seguros, nesse livro inédito, foi sem dúvida a maior realização da minha vida. Além disso, ser mãe do Vitor é meu maior orgulho. Também já tive o privilégio de plantar algumas árvores. Então, meu ciclo pela Terra me parecer estar completo.
Além de coautora fui convidada a ser coordenadora. Tomei esse projeto como uma missão com o propósito de devolver ao mercado um pouco do muito que ele me deu em todos esses anos. E essa experiência foi das mais gratificantes. Conheci mulheres incríveis, com histórias fascinantes. Dei a elas a oportunidade de também registrarem seus legados. Motivei, orientei, acompanhei. O resultado ficou fascinante. Uma obra com grande padrão literário.
S.N.D – Faça suas considerações
R.L – Recentemente li uma frase incrível que o Elon Musk disse em sua visita ao Brasil: “Para ser motivado com qualquer coisa é preciso entender o porquê das coisas. Se você não sabe porque está fazendo algo, é difícil ficar motivado com isso. Nosso cérebro evoluiu para ignorar e esquecer o que não tem relevância. Tente ser útil. Vai ver que é algo bem difícil.”
Eu fiquei pensando que todos nós, mulheres e homens, precisamos entender o porquê da luta pela equidade de gênero, o porquê ainda temos que falar sobre isso em pleno século 21.
Bem, não se vai a lugar algum sem fé. E, como diz a música, a fé não costuma falhar. Tenho fé que viveremos um ambiente de equidade de gênero onde mulheres serão igualmente ouvidas, respeitadas e valorizadas. Serão promovidas, serão reverenciadas. Esse dia vai chegar. É isso que me motiva. É para isso que dou minha contribuição e meu trabalho todos os dias da minha vida.
Leia, por fim, a 24ª edição da revista: