Metaverso será impulsionado pela consolidação da Web 3.0 e pelo avanço do 5G no mundo. Porém, esse fenômeno digital gera dúvidas acerca da sua aplicação no universo corporativo; no mercado de seguros, a novidade deve chamar a atenção de diferentes públicos e estimular o crescimento da cultura desse setor no Brasil
A gameplay The Sims, sucesso entre os jovens no início dos anos 2000, é um simulador da vida real, no qual o usuário cria seu personagem no ambiente online e vive da maneira que quiser, seja estudando, trabalhando ou criando e cuidando da sua família. A franquia, desenvolvida pelas empresas Max e Eletronic Arts, vendeu cerca de 200 milhões de cópias pelo mundo.
Mais de 20 anos depois, uma série de mudanças ocorreram dentro do ‘game’, acompanhando as tendências da chamada Web 2.0. Hoje, a franquia é a que chega mais perto do metaverso, fenômeno digital que ganhou popularidade nos últimos meses, principalmente após o Facebook divulgar o novo nome da empresa, em outubro do ano passado: Meta.
Conceitualmente, o metaverso mistura realidade aumentada com ambientes virtuais, assim como o The Sims no início deste século. Agora, no entanto, com a evolução da internet, a fronteira entre a vida física com a digital está ainda menor, e o que o usuário faz em um “jogo” pode ter um real impacto no seu cotidiano no mundo físico.
Essa experiência pode trazer uma série de benefícios para o universo corporativo. O uso do metaverso, em um futuro muito próximo, será utilizado para reuniões interativas, além de treinamentos especializados de colaboradores realizados à distância, o que diminuiria custos para as empresas.
Na fitinsur, startup focada em gerar escalabilidade de negócios no segmento de seguros de linhas comerciais, esse fenômeno se torna cada vez mais real. A empresa criou seu escritório virtual no metaverso com o intuito de se comunicar com os colaboradores. Denise Oliveira, CEO e co-fundadora da empresa, conta que foram realizados testes internos e a aceitação da iniciativa “foi incrível, tanto por parte dos funcionários nativos digitais, quanto para os profissionais desabituados desse ambiente”, comenta.
“Neste momento, o nosso foco com o metaverso é de aproximar as pessoas, criar e recriar conexões que ficaram suprimidas durante a pandemia. Como citamos no nosso manifesto, a tecnologia é apenas o meio. O que importa é a conexão. Usar uma ferramenta que viabilize isso neste momento em que estamos nos readaptando e reescrevendo a forma como tratamos nossas relações profissionais”, explica a executiva.
Segundo Denise, o metaverso insere uma experiência de convivência e colaboração que busca preencher certas lacunas da “vida digital”. “Isso é similar à adoção da computação em nuvem e trabalho remoto, que transformaram fortemente os ambientes e estruturas corporativas, bem como os processos e sistemas. Sendo inicialmente focado em “workplaces” corporativos, buscando maior integração e interação de equipes de trabalho de uma mesma organização, mas com potencial de expandir este formato de relacionamento e interação entre diferentes comunidades, empresas, parceiros de negócio, clientes potenciais, entre outros”, destaca.
A popularidade do metaverso chega em um período de transição da ‘Web 2.0’ para a ‘Web 3.0’. Além de marcar conceitos como descentralização dos serviços ao público e a privacidade dos dados do usuário, o novo marco da internet carrega consigo o fortalecimento de mundos digitais e a reprodução de experiências realísticas no universo virtual.
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Segundo Luis Forster, CEO da PDVBox, insurtech Saas de distribuição e comercialização para o ecossistema de seguros, aplicar esse fenômeno no mercado segurador será uma árdua tarefa, que vai exigir o empenho de todos os players responsáveis em ajudar a construir o setor. Para o executivo, o evento pode criar novas proteções e melhorar a experiência dos consumidores caso seja usado com inteligência. “É preciso ter idéias, tangibilizar, montar uma estrutura e achar uma rede de distribuição”, comenta.
“O metaverso pegou ritmo porque as pessoas entenderam que não precisam fatidicamente ir a algum lugar para interagir. Isso, inclusive, foi um dos legados da pandemia”, analisa Forster.
Para o segmento de seguros se utilizar com eficiência essas novas ferramentas, o CEO da startup alerta que qualquer player deve estar atento às ágeis mudanças. “O mercado está mudando rapidamente. Muitas empresas trazem a jornada física para o digital. Enquanto umas acertam a mão e outras têm dificuldades”.
De olho na nova geração de consumidores
O The Sims foi pioneiro em imitar as práticas do mundo físico no ambiente digital. Em 2022, o segmento de games ainda é o que mais se aproxima dessa imersão, mas com ferramentas diferentes. O óculos de realidade virtual toma o lugar dos famosos joysticks, por exemplo. Para viver essa experiência, estar em um cômodo maior e manter os objetos físicos longe do seu alcance, evitando prejuízos.
Luis Forster enxerga nos jogos online uma grande oportunidade do setor se apresentar para a nova geração e mostrar a ela a importância da proteção financeira e familiar. “É necessário conscientizar os jovens sobre o que é seguro. Por isso, os jogos podem ser mais assertivos com esse público, que a partir desse contato, começa a entender o que é o mercado de seguros”.
Denise Oliveira também entende que as empresas devem estar presentes no ambiente digital para atrair a nova geração de consumidores. Em sua análise, o setor tem grandes dificuldades para sensibilizar o público de menor faixa etária.
“Eles (jovens) podem se tornar consumidores de produtos de seguros, desde que estes atendam suas necessidades, agreguem valor ao portfólio financeiro e façam sentido”, salienta.
A CEO da fitinsur destaca a possibilidade de interação com esse público dentro de um ambiente nativo, que “favorece a coleta de informações para o desenho e comercialização de produtos segmentados, tornando-se uma ferramenta poderosa tanto para o corretor expandir suas vendas quanto para a seguradora no desenho de produtos adequados”.
Em entrevista ao podcast Mindcraft, o superintendente de Gestão do Relacionamento da MAG Seguros, Bruno Costa, afirmou que será possível sensibilizar o cliente para contratar um seguro de vida, por exemplo. Essa carteira, apesar de estar em amplo crescimento no país, é ignorada pela maioria dos jovens.
“A gente tem uma penetração muito baixa hoje na nossa sociedade sobre o seguro e a cultura do seguro. Imagina você expandir essa cultura, essa educação financeira, de forma a tornar isso divertido a entreter as pessoas com esse assunto que é o grande ponto de dificuldade que a gente tem”, afirma o superintendente da MAG Seguros.
Corretor de seguros no metaverso
O empreendedor Digital e sócio-diretor da Unimark Comunicação, Walter Longo, afirma que o metaverso traz oportunidades dentro mercado segurador, sobretudo na atividade dos corretores. Segundo ele, será possível encontrar muitas possibilidades de negócio em diversas áreas de produção. “Os corretores poderão vender seguros para pessoas que precisam se proteger dentro do metaverso ou nas suas vidas fora dele”.
O especialista explica que esse fenômeno trará diversas mudanças no setor. “A atividade de seguros tem a ver com a vida, e ela será duplicada”. Na sua projeção, a segurança de dados será expandida e as proteções acerca dos riscos cibernéticos vão seguir o mesmo caminho. Além disso, segundo ele, a telemedicina ganhará novas funcionalidades, com o médico vendo o paciente na sua totalidade.
“O novo universo dos metaseguros envolvem proteção de dados pessoais e corporativos, proteção de identidade, proteção de propriedades digitais, proteção de reputação da marca. Já estão surgindo os primeiros seguros contra acidentes domésticos causados por tecnologia imersiva”, pontua.
Para o CEO da PDVBox, as portas das oportunidades para seguradores e para os corretores vão se abrir, mas o executivo é cauteloso. “Muitas coisas devem ser criadas e não acho que o seguro pelo metaverso vai bombar de vender neste ou no próximo ano. Existe uma curva de crescimento que precisa ser explorada”.
No podcast, o superintendente da MAG Seguros comentou ainda sobre as oportunidades e os desafios desse novo universo. “Imagine a possibilidade de você treinar um corretor numa plataforma onde ele está imerso, podendo ter uma série de informações em tempo real, além de fazer reuniões com múltiplos corretores no Brasil todo. É possível pegar experiências diferentes. Eles podem estar sentados ao redor um do outro podendo acessar dashboard, podendo interagir. Acho que isso seria de uma capacidade de interação e imersão fantástica”.
Embora a tecnologia abra grandes possibilidades de negócio no mercado segurador, o desafio maior é entender como esse ambiente vai funcionar e como as empresas vão se comportar diante da Web 3.0. “Tem muita oportunidade: as empresas precisam começar a entender, a estudar e tentar se posicionar, e principalmente, saber onde estão as possibilidades de negócios para isso. Tem que deixar de lado os conceitos ainda muito tradicionais e começar a olhar para aquilo que é novo”, finaliza Bruno.
Leia, por fim, a 23ª edição da revista: