Quando desembarcou em Brasília aos 17 anos, Rosane Mota estava com o coração cheio de sonhos profissionais e pessoais. Sua carreira promissora começou quando ela partiu de sua cidade natal, Congonhas, em Minas Gerais, para pavimentar a estrada do seu sucesso em outra região do país.
Logo se formou em administração de empresas pela Universidade do Distrito Federal (UDF) e passou a trabalhar no sistema financeiro. Apesar de nunca ter imaginado atuar com seguros, Rosane pegou familiaridade com o negócio quando chegou ao extinto Banco Agrimisa, instituição na qual passou a vender cartas de fiança bancária, produto semelhante ao seguro garantia.
Anos mais tarde, no banco Pottencial, a executiva trabalhou como especialista em investimento e fundo de pensão para captação de investimentos. Enxergando potencial no ramo de Seguro Garantia, o banco criou a Finlândia Corretora, seu braço de corretagem responsável pelas vendas do produto exclusivo da Pottencial.
Naquele instante, o projeto serviu como uma mola propulsora para a carreira de Rosane, que se destacava ano após ano na sua área.
“A diferença entre carta de fiança bancária e seguro garantia é pequena. Por isso, já tinha intimidade com o seguro quando entrei no projeto da corretora, o que gerou uma virada de chave na minha cabeça”
A chave abriu uma série de portas com oportunidades para o seu desenvolvimento como corretora de seguros. Uma gráfica encontrada aleatoriamente na lista telefônica foi a primeira prospecção da profissional. Esse passo deu início a outros importantes degraus que Rosane subiu para se tornar superintendente regional da corretora.
A executiva conseguiu a estabilidade almejada por muitos profissionais. Construiu sua carreira entregando importantes resultados anualmente para a Finlândia e passou a ser uma profissional extremamente respeitada no mercado. Após muito esforço, Rosane poderia aproveitar o momento para reduzir o ritmo de trabalho. Poderia.
A VONTADE DE EMPREENDER
Rosane dedicou 25 anos da sua carreira ao grupo Pottencial, sendo 15 deles na Finlândia. “Desenvolvi um grande carinho pela empresa e estive com pessoas que me ajudaram muito profissionalmente”, agradece.
Para ela, a mudança na sua vida profissional era inevitável naquele momento: em um mês, recebeu nove convites de corretoras para se tornar sócia. Embora tenha ficado satisfeita com as propostas, não foram elas responsáveis pela mudança de rumo na sua carreira.
“Por que vou ser sócia se posso abrir a minha corretora?”
A partir desse momento, Rosane passou a idealizar a RM7 Seguros, que reunia toda sua experiência profissional com a eficiência da equipe que liderou por tantos anos na Finlândia Corretora. “Fui gestora deles durante 15 anos e, quando decidi sair, toda a equipe de Brasília veio comigo. Não foi planejado, aconteceu”, comemorou a executiva.
Com o apoio fundamental da sua equipe, das seguradoras que foram consultadas pela executiva e também do seu marido Luis Fernando, com quem é casada há 13 anos, Rosane, enfim, fundou o seu primeiro negócio em 2021. “Nunca fui empresária, mas a oportunidade era aquela hora”, ressalta.
Apesar de ser uma empresa muito jovem, ela já começou grande, com um sistema de gestão próprio, integrado com outras seguradoras. “Não dependemos das companhias para fazer gestão, temos um importante sistema de gestão que deu o conforto inicial que eu precisava”, lembra a executiva.
PLANO AMBICIOSO
A RM7 Seguros começou em Brasília com 10 parceiros de negócios e conseguiu rapidamente o respeito do mercado, pois, após mais de duas décadas no grupo Pottencial, Rosane teve seu trabalho reconhecido por todos que estavam em seu entorno.
Com a estrutura operacional preparada em tão pouco tempo, a executiva já projeta importantes novidades em breve. “Este ano vamos crescer querendo ou não”, pontua. Um dos focos da corretora é fortalecer a marca da empresa no Rio de Janeiro e, no segundo semestre, chegar à região Nordeste, onde “é muito carente de corretoras especializadas e de renome”, observa a executiva
O plano de expansão envolve também ampliar a carteira de produtos da corretora. Para este ano, a intenção é atuar ainda mais em saúde, seguro de vida, residencial e fiança locatícia, ramos com alto potencial no Brasil.
A MULHER NO MERCADO DE SEGUROS
Rosane Mota não é apenas uma empreendedora de sucesso, mas também uma profissional que luta pelo direito das mulheres estarem em espaços de liderança dentro das empresas. Por isso, além de ser empresária, corretora e administradora, ela também é consultora consultiva do Clube das Executivas de Seguros de Brasília (CESB) e coautora de dois livros: Liderança Humanitária e Memórias de Líderes da Alta Gestão, pela Academia Europeia de Alta Gestão.
Sua percepção sobre a baixa participação das mulheres no setor aconteceu em reuniões nas quais eram perceptíveis a predominância masculina. “Com 23 anos, já sentava à mesa com 20 homens e só eu de mulher. O tamanho da participação feminina no mercado de seguros era assustador. Nosso setor sempre foi majoritariamente masculino”, lembra Rosane.
Exercendo seu papel de ativista sobre esse tema, a executiva acredita que o mercado está mudando aos poucos, mas ainda está longe do ideal. “A evolução existe, mas poucas são as mulheres ainda hoje em grandes seguradoras e em corretoras, ocupando cargos de diretoria ou de liderança. O simples fato de falarmos sobre isso já é um grande avanço”, pondera.
A proporção de mulheres em cargos de liderança em seguradoras ainda é menor em relação aos homens, segundo o estudo Mulheres no Mercado de Seguros de 2022, desenvolvido pela Escola de Negócios e Seguros (ENS). Atualmente, há 2.2 diretores homens para uma mulher. Em 2012, ano de lançamento da primeira edição do material, para cada quatro executivos existia uma diretora.
“Não cabe mais a gente ser individualista. Quando a maioria das mulheres perceber isso, vai ficar muito mais fácil encarar um mercado ainda muito machista”.
Uma das provas que as executivas do mercado estão mais unidas foi a realização do evento Sou Segura Summit 2023, evento que aconteceu nos dias 7 e 8 de março em São Paulo. Reuniram-se centenas de mulheres profissionais do setor de seguros com o intuito de fortalecer o debate sobre a participação do público feminino nas empresas que atuam na indústria.
“Saí sem fôlego após ouvir tantas histórias lindas. Já perdi a conta de quantas vezes eu saí de uma empresa sabendo que eu tive que alterar meu tom de voz para ser escutada. A gente precisa ser respeitada como mulher e como executiva. Eu espero, realmente, que as companhias entendam isso de uma vez”, alerta a executiva.
Os 30 anos no mercado de seguros proporcionaram a Rosane muito aprendizado como profissional e também como mulher. A sua cidade de Congonhas, conhecida pelas artes barrocas esculpidas pelo Mestre Aleijadinho, também está bem representada na indústria de seguros, cada vez mais importante para a proteção social dos brasileiros.
Leia, por fim, a 31ª edição da revista: