Seguradora responsável não conseguiu achar um táxi que pudesse atender seu cliente em São Sebastião
O carnaval de 2023 foi de muita folia para alguns e de muito trabalho para outros. Entre os dias 19 e 23 de fevereiro pancadas de chuva caíram sobre a região de São Sebastião, litoral Norte de São Paulo, deixando vítimas fatais, famílias desabrigadas e turistas ilhados devido ao deslizamento de terra que obstruiu vias de ligação entre a capital e o litoral.
“Meu carro estacionado está com água até o retrovisor”, disse por telefone um segurado a Felipe Brandão, sócio da RAP10 Seguros, que estava em casa, na capital de São Paulo. Seu cliente foi curtir o feriado em São Sebastião, mas o clima de festa virou um momento traumático.
Após ouvir o relato, Brandão entrou em contato com a seguradora para que ela enviasse um táxi ao local antes que o fim de semana acabasse. “A companhia queria agendar o carro para uma semana depois. Então, eu mesmo peguei meu próprio veículo e fui atrás de ajudar meu cliente”, relata.
“Decidi agir por conta própria: enchi o tanque de gasolina e pensei em chegar o mais próximo possível do segurado. Só não contava que meu carro quebraria no caminho”, lembra entre risos de constrangimento. Enquanto isso, o escritório da RAP10 buscava alternativas junto à seguradora, mas sem sucesso. Após muita insistência, a corretora conseguiu um táxi particular de São Sebastião para Caraguatatuba. O transporte foi pago do próprio bolso. “De lá conseguimos finalmente um táxi da companhia para o destino final”.
As adversidades eram grandes, mas os problemas do segurado eram maiores. “Fiquei chateado. Como eu consegui um táxi e a seguradora não?”, indaga.
Fala, corretor
Para que o consumidor tenha a melhor experiência com o seu seguro, o convívio entre seguradores e corretores deve estar bem alinhado. Enquanto o corretor é responsável em entender as principais dores do seu cliente, a seguradora assume os riscos e prepara o produto que se encaixa com o perfil dele.
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Via de regra funciona desse jeito, mas nem sempre é o que acontece. “O relacionamento que o corretor tem com algumas seguradoras vai depender de quanto o profissional produz para ela”, constata Brandão. Na sua análise, embora as companhias peçam produção cada vez maior, “muitas insistem em permanecer com os produtos da prateleira”, complementa.
Na análise do corretor, o caso de São Sebastião mostra como algumas companhias precisam capacitar melhor a equipe de atendimento ao cliente, principalmente em problemas que fogem da rotina. “O preço do seguro auto está cada vez maior, mas não vejo a qualidade do atendimento subindo. Muitos dos meus clientes contrataram seguros completos nos últimos anos, mas em 2023 grande parte vem diminuindo as coberturas”, observa.
O transtorno vivido por Brandão e seu cliente pode servir de alerta para seguradoras do ramo auto. Segundo o Índice de Preços de Seguro de Automóvel (IPSA), desenvolvido pela TEx, em um ano o valor do seguro subiu 17,5%. O sócio da RAP10 Seguros observa que as pessoas estão diminuindo as coberturas e até desistindo da renovação, abrindo margem para o mercado marginal, segundo ele. “O valor já está alto e quando acontece um problema o cliente só quer que ele seja resolvido”.
“Não adianta comemorarmos o crescimento a dois dígitos se o número de segurados diminui com o custo que está o seguro auto. É fato e triste afirmar que o setor de seguros é o maior incentivador do mercado marginal de seguros. O que o segurado quer? Seguro completo, preço justo e bom atendimento. Não adianta inventar moda de ‘seguro por km’, ‘seguro firula’, ‘seguro do povo’, ‘seguro por app’ e cobrar caro por quase nada”, finaliza o corretor.
Leia, por fim, a 31ª edição da revista: