Em um mercado de trabalho que ameaça substituir profissões por autonomias digitais, demanda por profissões diretamente ou indiretamente ligadas à atividade securitária cresce em um dos setores com maior potencial de crescimento no Brasil
Reportagem publicada originalmente na 44ª edição da revista digital.
O mercado de seguros brasileiro encerrou o ano de 2023 com crescimento de 1,3% na geração de empregos diretos, totalizando 185,3 mil trabalhadores ativos. A pesquisa foi elaborada pela CNseg, com base em dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). No mesmo ano, o Guia Salarial da Robert Half, considerado uma das fontes mais confiáveis sobre salários e tendências do mercado de trabalho no Brasil, previu que o segmento de seguros é um dos setores com maior potencial de contratação em 2024.
A busca por profissionais acontece em paralelo às metas de crescimento da indústria na economia brasileira. Até 2030, o mercado projeta alcançar 10% de participação no PIB. Nesse sentido, atrair e, sobretudo, reter talentos é fundamental para a popularização deste mercado, segundo Maria Helena Monteiro, Diretora de Ensino da ENS. “Profissionais satisfeitos naturalmente se tornarão multiplicadores positivos daquele segmento em que atuam”.
Maria Helena avalia que, com a modernização da indústria, as empresas e as entidades do setor entenderam a necessidade de absorver mão de obra qualificada.
“Em contrapartida, elas oferecem boa empregabilidade, salários acima da média de mercado e benefícios que vão além do que é praticado pela maioria dos demais segmentos”
A Diretora de Ensino da ENS está otimista com o futuro. “Acredito que, cada vez mais, teremos e manteremos grandes talentos”, projeta. Ela avalia que os corretores e as equipes de funcionários das seguradoras formam um grupo de trabalho qualificado, “em um mercado atrativo, que cresce continuamente, e se torna mais complexo”.

A Gupy, empresa de tecnologia especializada em RH, realizou uma pesquisa sobre quais ações são responsáveis por reter e atrair colaboradores. Além do reconhecimento salarial, o resultado mostrou que a chave está na valorização do trabalho e na qualidade de vida. “O dinheiro é importante, mas investir em propostas como horário flexível ou carga horária reduzida é uma aposta muito mais segura para manter a equipe motivada”, concluiu.
O setor ainda esbarra na barreira da popularização, embora esteja se modernizando. O Vice-Presidente de RH, Jurídico e ESG da AXA no Brasil, Alexandre Campos, conta que boa parte dos candidatos jovens procura a seguradora como opção de carreira quando já tem familiares ou conhecidos que atuam na área. “Essas pessoas, geralmente, entendem a importância do segmento e o papel do seguro como um aliado para o planejamento financeiro, mais do que uma via de proteção e redução de riscos à sociedade”.

Campos observa que a grande questão é a falta de conhecimento dos jovens. Por isso, segundo ele, a AXA produz projetos que visam introduzir o tema de seguros como foco neste público. As etapas são:
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Apresentação da empresa em feiras universitárias;
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Programa de mentoria para jovens;
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Rodas de conversa sobre o mercado e profissões relacionadas a ele.
O executivo lembra que o mercado de seguros emprega não só profissionais diretamente ligados a departamentos técnicos. Áreas como tecnologia, especialmente voltadas para a digitalização de processos e tratamento de dados, ESG e precificação e reservas financeiras também demandam de muitos profissionais, segundo o especialista.
“Após ingressarem como Jovens Aprendizes ou Estagiários, vemos que esse público encontra oportunidades de desenvolver suas carreiras”, salienta Campos. As habilidades adquiridas incluem, segundo ele, conhecimentos técnicos e interpessoais, palestras variadas, aprendizado de idiomas, bem como orientação e mentoria de carreira.
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Por que a tecnologia não vai substituir o trabalho humano?
O estudo “Demanda de Talentos em TIC e Estratégia ΣTCEM” publicado pela Brasscom em 2021 revelou que as empresas vão precisar de 797 mil profissionais de tecnologia até 2025. O Fórum Econômico Mundial prevê que a Inteligência Artificial vai eliminar aproximadamente 85 milhões de vagas de trabalho. Porém, criará outras 97 milhões até o ano que vem.
O porta-voz da área de seguros da Capgemini, Gustavo Leança, explica que toda transformação tecnológica tende a gerar substituições, o que não necessariamente resultará no desemprego em massa, mas sim em novos cargos e diferentes formas de se trabalhar. Segundo o executivo, todos os trabalhos envolvem ferramentas tecnológicas, seja em seguradoras ou em corretoras.
“Para todas as situações e tarefas que executamos, sempre há tecnologia e alguém pensando em como melhorar esse trabalho. Ou seja, uma hora ou outra, uma evolução tecnológica virá”, destaca o especialista.
Ele faz alusão ao filósofo e economista escocês, Adam Smith, que acredita na razão do indivíduo agir livremente para obter os melhores resultados para si, maximizando, indiretamente, os ganhos coletivos.

Em fase de adaptação no Brasil, o Open Insurance permite que os clientes compartilhem dados que atualmente estão dentro de sistemas de uma seguradora. Leança entende que a novidade vai transformar as atividades profissionais no setor. Isso porque, as seguradoras terão mais informações dos clientes e, com o apoio da tecnologia, vão produzir melhores serviços, tornando o trabalho dos profissionais mais eficiente. “Quem souber aproveitar essas oportunidades trazidas pelos dados será ainda mais produtivo”, pondera.
Ao contrário do que se comentou nas discussões iniciais sobre o OPIN no Brasil, a intermediação nas vendas de seguros deve se comprovar ainda mais valiosa a partir da sua adequação no país. O porta-voz da Capgemini salienta que os produtos são complexos e as pessoas têm receio em adquirir algo errado. “Mesmo as empresas que se lançaram para um modelo B2C, hoje buscam o intermediário para alavancar suas vendas”. Nesse sentido, ele projeta o trabalho desses profissionais com uma importância maior, desde que acompanhe a tendência de transformações.
O dinamismo da indústria de seguros está tirando profissionais da zona de conforto. Maria Helena reforça que todos devem buscar atualização constante. “O conhecimento é o bem mais valioso do mercado de trabalho”. A diretora da ENS destaca que a instituição não forma apenas corretores, mas também capacita toda a mão de obra que atua, direta ou indiretamente, no mercado de seguros e áreas afins.
Atraindo os jovens profissionais
Um dos desafios do mercado é aumentar a percepção do jovem sobre a importância do seguro. Os impactos da pandemia, a volatilidade econômica e as alterações na rotina estudantil deixaram o público jovem mais preocupado, o que despertou a necessidade de buscarem alternativas para proteção individual, segundo uma pesquisa da Lojacorr. Entre 2022 e 2023, a seguradora Icatu, por exemplo, registrou um aumento de 23% na adesão ao seguro de vida entre os jovens de 18 a 24 anos.
O aumento do número de segurados jovens pode despertar o interesse desse público a trabalhar nele. “É crucial ter diferentes perspectivas e gerações engajadas no mercado segurador”, destaca Camila Asenjo, Diretora de Pessoas na Icatu Seguros.
Camila define a Icatu como uma empresa de oportunidades, que disponibiliza posições no quadro de colaboradores responsáveis em garantir a oxigenação dos seus negócios. A companhia produz constantemente programas de estágio e de jovem aprendiz, com média de 249 candidatos por vaga. Em 2023, a seguradora realizou 1.500 entrevistas para 585 vagas abertas. Atualmente, são 227 mil pessoas cadastradas na sua página de carreiras.

A diretora da Icatu entende que a indústria de seguros é atraente para o jovem trabalhar, pois é um setor que está em constante renovação e adaptando-se às novas formas de consumo.
“Além disso, há muitas áreas que englobam o setor, desde desenvolvimento de produtos, marketing, experiência digital, tecnologia, entre muitos outros”, pondera.
Ter profissionais que permeiam diferentes posições faz parte da cultura da companhia, segundo Camila. “É algo que estimulamos, sobretudo neste período de estágio”, revela. Com essa política, de acordo com a executiva, o jovem profissional passa a conhecer não só a empresa, mas também as oportunidades que o mercado oferece.
A democratização dos produtos do mercado envolve, sobretudo, o acesso das camadas sociais mais vulneráveis. Desassistidas, são elas que mais precisam de seguro para imprevistos. Alexandre Campos, da AXA, destaca que a seguradora também desenvolve programas para jovens aprendizes e estagiários. O executivo conta que parte das vagas é direcionada para indivíduos em situação de vulnerabilidade social.
“Mais do que abrir vagas para esse público, nosso programa inclui uma trilha de desenvolvimento específica, com o intuito de reduzir as desigualdades enfrentadas por esses colaboradores, identificando e cultivando novos talentos para integrá-los plenamente à nossa companhia”, conclui.