Do despejo até as técnicas aplicadas de Feng Shui. Daniel Bortoletto, CEO da Regula Sinistros, revelou quais foram suas batalhas até elaborar a companhia com soluções inéditas para o mercado de seguros
Em meados de maio de 2017, Daniel Bortoletto acordou com a pior ligação da sua vida. “O que aconteceu com sua empresa?”, indagava o interlocutor. Naquele instante, o empreendedor descobria que o principal cliente da sua corretora decidiu rescindir o contrato sem aviso prévio. A Projetcon, criada em 2001, perdia o maior cliente e praticamente toda a receita.
Mesmo em crise, a empresa deveria pagar os direitos dos colaboradores e as comissões de muitos corretores. Só assim, ela poderia fechar as portas com dignidade, e Daniel buscar outra forma de sobrevivência. Não era a primeira vez que o empresário teve de encarar um problema tão austero.
O costume de amadurecer diante das dificuldades começou a ser desenvolvido na infância. Na zona leste de São Paulo, a pequena gráfica do seu pai, o Sr. Roberto, lucrava cada vez menos. Era ali a fonte de renda de toda a família Bortoletto. Sua mãe, a Sra. Carmem, era dona de casa, enquanto suas irmãs, ainda pequenas, não trabalhavam. Mesmo com uma vida cheia de limitações, Daniel vivia alegre, principalmente quando fechava seu portão e ficava do lado de fora jogando bola com os amigos, fazendo manobras de skate ou contando os carros da rua imaginando que no futuro teria um só seu.
Após o fim do casamento dos pais, o adolescente encarou precocemente a rotina de um trabalhador. Na empresa de amendoins doces torrados, ele empacotava centenas deles todos os dias. O trabalho era muito, mas o salário era baixo. Depois de ganhar experiência, foi morar e trabalhar com a tia, dona de uma papelaria no bairro do Brás, centro de São Paulo. Como ajudante geral, conversava e entendia as necessidades dos clientes, aprendizado encantador que seria aproveitado futuramente.
O período na casa da tia despertou em Daniel o desejo de proporcionar à família dias mais cômodos financeiramente. Por isso, voltou a morar com a mãe e as irmãs. Enxergou nos estudos o caminho mais eficaz para realizar esses anseios. Ingressou na faculdade de direito por onde permaneceu por pouco tempo. Mesmo sem saber, não era a hora e nem a profissão correta para sua vida.
Momento errado porque logo depois de Daniel se tornar universitário, Sr. Roberto, à época com 42 anos, morre vítima de câncer. A figura paterna, referência de trabalho duro e honesto, partia deixando os familiares e muitas incertezas. O abalo emocional cresceu quando, dois dias depois da partida, a família Bortoletto recebeu a notificação de que seria despejada. Os 12 meses de aluguel atrasados se tornaram parte da herança deixada pelo pai.
A morte do pai acarretou em outro momento obscuro. A faculdade de direito foi abandonada para equilibrar as contas. O momento conturbado lapidava o garoto de 21 anos, que gostaria de ser advogado, mas o destino preparou outra profissão.
Amor à primeira vista
Quando era funcionário de uma empresa de produtos de higiene bucal, Daniel teve o primeiro contato com o seguro. Depois do trabalho, tirava o uniforme e vestia o terno e a gravata para iniciar as vendas de planos de saúde. Pela primeira vez, o mais novo corretor de seguros aplicava o que tinha aprendido quando trabalhava na papelaria da tia: ouvir, conversar e entender a necessidade dos clientes.
A profissão de corretor logo mostrou a Daniel que cursar direito seria um grande equívoco na sua vida. Após se encontrar depois de tantos momentos desgastantes, o futuro empresário trilhou o caminho dos negócios e encontrou no meio do percurso a base de sustentação para todos seus sonhos. Uma luz, um alicerce, uma dádiva.
Adriana Campos entrou na sua vida em 2001, mesmo ano de inauguração da Projetcon Corretora de Seguros. A advogada foi o último combustível que Daniel precisava para acreditar no seu potencial de empreendedor. Entretanto, a autoconfiança ainda seria pouco. Era necessária uma crença em um modo de viver, um modo de pensar, de agir e de se relacionar. Adriana o apresentou o Feng Shui, ciência e arte chinesa que têm por objetivo organizar os espaços com o intuito de atrair influências benéficas da natureza.
Os primeiros anos da Projetcon foram estáveis. Era detentora de um contrato exclusivo de planos de saúde para funcionários da prefeitura e para empregados da Companhia de Engenharia de Trafego (CET). No entanto, em 2004 a empresa perdeu o contrato, e a receita caiu drasticamente. O executivo viu de perto a possibilidade de fechar as portas da sua primeira empresa.
Para reduzir custos, do centro de São Paulo o escritório da corretora mudou para um pequeno sobrado no Ipiranga, onde também era a casa de Daniel e Adriana. Embora existisse certo desconforto, eles sabiam que a fase ruim era momentânea. Um dos motivos dessa convicção foi quando decidiriam adaptar toda a corretora com as técnicas de Feng Shui. O resultado não tardou. Em 2007, a Projetcon faturou meio milhão de reais em comissões ao fechar um negócio com seu maior cliente. O sonho que Daniel tinha de levar o conforto à sua família, enfim, foi realizado.
De despejado, o corretor de seguros comprava sua primeira casa. A ascensão financeira teve como pano de fundo a realização pessoal. Ainda em 2007, nasce a Malu, filha do casal. A garota de sorriso tímido e espontâneo foi o brilho que faltava para iluminar a família.
Desejo de um produto próprio
A profissão de corretor de seguros dispôs de privilégios para Daniel. Um deles foi conhecer o curso de administração com ênfase em seguro oferecida pela Funenseg, a atual Escola Nacional de Seguros. 14 anos depois do abandono, o empreendedor voltava à sala de aula para, enfim, continuar sua vida acadêmica. À época, ele já era sócio e dono de quatro corretoras de seguros. Motivado pelos estudos, leu o livro “Sonho Grande”, escrito pela jornalista Cristiane Correa. A obra conta a história de empresários que acreditavam em redução de custos e meritocracia como forma de gestão. O relato documentado serviu de inspiração para Daniel criar uma solução exclusiva para o mercado de seguros.
A Regula Sinistros começou a ser escrita em 2015. Há um bom tempo, o corretor já perdia o apetite pela profissão, ao mesmo passo que o desejo de contribuir para o mercado segurador de uma forma diferente era cada vez maior.
Foram dois anos para tirar o projeto do papel e colocá-lo em prática. A ligação naquela manhã informando a perda do maior cliente da Projetcon a princípio foi assustadora. Entretanto, Daniel agradeceria logo depois. O comunicado foi o ‘start’ que o corretor precisava naquele momento. A vida confortável oriunda do contrato de meio milhão possivelmente inviabilizaria a criação da Regula Sinistros.
Daniel sabe disso. Ele compreende que poderia viver na zona de conforto até hoje. O destino, porém, trabalha de uma forma desobediente, muitas vezes indecifrável e suas rotas são medonhas. Mas é ele quem decide de que maneira vai preparar o sucesso de cada profissional dedicado.
Criada em 2017, a Regula Sinistros possui centenas de clientes espalhados por todo o Brasil. A perspectiva é de expansão na América Latina e em Portugal.
Daniel Bortoletto é formado em administração com ênfase em seguro pela Funenseg, atual Escola Nacional de Seguros, e pós-graduado em administração na FGV.
Bortoletto
PARTICIPE DO GRUPO DO WHATSAPP PARA PROFISSIONAIS DE SEGUROS