Em 4 de março, a Coface anunciou Marcele Lemos como Chief Operation Officer na América do Norte. Após 10 anos na liderança da maior seguradora de crédito do Brasil, a profissional torna-se, a partir de 1º de maio, uma das executivas mais importantes do cenário global de seguros
Mãe, esposa, e uma mulher exemplar. O nome dela é Zeneide. Não é a personagem principal desta história, mas é o fator determinante para a construção dela. Quando Marcele Lemos era criança, seguia, junto de seus irmãos, os passos de sua mãe numa fazenda em Campos dos Goytacazes, município localizado no interior do Rio de Janeiro. Sempre um domingo no mês, a dona Zeneide preparava um café da manhã completo para levar aos idosos de um asilo próximo ao bairro. Ela fazia questão de levar seus filhos e ensiná-los como um ser humano deve ser solidário.
Marcele adquiriu todos os ensinamentos da sua mãe, que também era sua amiga e companheira para todo momento. Levou esse estilo de vida não só em suas relações sociais, mas também para o mercado de trabalho. Sua competência profissional, aliada à simpatia e facilidade de comunicação a tornou uma das executivas mais importantes do mercado segurador do mundo. Em março deste ano, Marcele anunciou sobre seu novo cargo de COO da Coface da América do Norte.
As tratativas começaram há bastante tempo, mas a pandemia dificultou o progresso das conversas.
Com 20 anos de empresa, Marcele assumirá o novo a partir de 1º de maio. Mesmo assim, continuará no país até que a crise sanitária diminua. Com o avanço da vacinação nos EUA, sua mudança pode ocorrer no fim deste ano. Será uma grande mudança na vida da executiva e de sua família, que a acompanhará nessa jornada.
“Tenho 10 anos na presidência da Coface no Brasil. Estou bem confortável, pois formei uma equipe muito competente nesse período. Agora, vou para um mundo diferente, com pessoas novas, cultura diversa e um posicionamento de produto diferente”, relata.
Marcele e sua equipe foram capazes de manter a seguradora em primeiro lugar em seguro de crédito no país, mesmo em períodos de turbulência financeira e a mais recente crise sanitária. Em 2020, por exemplo, a companhia cresceu 37%, enquanto a ocorrência de sinistros caiu. Para a executiva, a crise ocorrida em 2015, que ela considera a maior enquanto esteve no cargo, serviu de laboratório para se adaptar ao momento enfrentado no ano passado. Com o time coeso aqui no país, ela não descarta propor alguns nomes na Coface América do Norte. “Oportunidades virão para quem está aqui, pois minha equipe é composta por profissionais excelentes”.
A crise econômica que assolou o Brasil há seis anos corroborou numa virada de mesa estratégica da seguradora. A rápida resposta foi primordial para que em 2016, enquanto muitas empresas de diversos setores sentiam os impactos da recessão financeira, a Coface conseguisse estabilizar suas operações e seguir na contramão da turbulência.
Por isso, é impossível cogitar que o convite da alta cúpula da companhia aconteceu por acaso. Desde 2018, inclusive, ela é responsável por desenvolver estratégias de negócios para toda a América Latina, adaptando as técnicas da seguradora de acordo com as particularidades culturais de cada território. Desse modo, a performance vencedora aqui no Brasil se aliou ao trabalho internacionalmente reconhecido.
A executiva revela estar ansiosa para o início do trabalho, que conta com uma agenda extensa já em 1º de maio. “Iniciei os contatos com os profissionais que farão parte da minha equipe. Antes de começar, tirarei duas semanas de férias, que serão importantes para oxigenar as ideias e virar a chave para uma vida nova”.
No início de março, a Coface Brasil anunciou a sucessora Rosana Passos de Padua, profissional que possui quase 40 anos de experiência profissional em finanças, crédito, gestão de riscos, planejamento estratégico, seguros e resseguros em empresas multinacionais. Na sua chegada, Rosana aproveitou para elogiar o time construído por Marcele. “(…) Tenho certeza de que minha bagagem profissional e a equipe maravilhosa construída pela Marcele me ajudarão a manter a companhia no topo do mercado, além de ampliar os negócios da seguradora e fortalecer a marca”.
A fase de transição contará com Marcele até 15 de abril. Por já conhecer Rosana de mercado, ela confia que a sua sucessora fará um grande trabalho.
“É uma profissional muito bem preparada. Tenho certeza que ela vai fazer um excelente trabalho. Estou tranquila em deixar a liderança na mão dela. Não teria outra pessoa melhor para assumir esse cargo”.
Representatividade
Em 2011, quando assumiu o cargo de CEO, Marcele fazia história. Ela foi a primeira mulher brasileira na liderança de uma seguradora. Ciente da sua luta e das batalhas de outras mulheres, a executiva levantou desde sempre a bandeira da diversidade de gênero no ambiente corporativo.
Desde 2013, a Escola de Negócios e Seguros realiza um estudo trienal sobre a participação das mulheres no mercado segurador. O último ‘Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil’, divulgado em 2019, entrevistou 436 mulheres e quis saber como as entrevistadas avaliam as oportunidades e a participação das mulheres na liderança do setor, frente ao panorama de três anos atrás, ou seja, 2016. 60% das mulheres acharam que a situação está melhor ou muito melhor do que há três anos, em termos de oportunidades e participação feminina. 35% delas acreditam que o cenário está igual, enquanto 5% das entrevistadas pensam que está pior.
Acompanhando de perto essas mudanças, Marcele acredita que o panorama melhorou na última década, mas que ainda há uma diferença desproporcional entre homens e mulheres em cargos de liderança.
“Esse é um trabalho que nós mulheres líderes temos que dar as mãos e continuar fazendo com que as empresas entendam a importância da diversidade de gênero, de raça, de idade e de inclusão (profissionais portadores de algum tipo de deficiência física) ”.
O debate sobre a cultura da diversidade de gênero no mercado de trabalho ganhou força nos últimos anos. Uma análise de 2017 realizada pela McKinsey, empresa americana de consultoria empresarial, intitulada de “Women Matter” (“Mulheres Importam”) contou com a participação de mais de 900 empresas do mundo. O estudo revelou as relações entre a diversidade de gênero dos líderes de equipes e os resultados da empresa.
Três ou mais mulheres em altos cargos pontuaram melhor em todos os atributos responsáveis pela eficiência de uma organização. Eles são: liderança; cultura e clima; prestação de contas; coordenação e controle; capacitação; motivação, orientação; inovação e aprendizagem.
Mesmo comprovado por estudos que a diferença de gênero aumenta o índice de eficiência das empresas, a desigualdade persiste. Marcele conhece os caminhos para essa mudança. “Nós mulheres devemos fazer um movimento interno dentro das suas companhias. Depois disso, é necessário fazer com que a iniciativa chegue lá fora e mostrar a importância para outras organizações se interessarem”.
O compromisso da executiva não é apenas com ela mesma, mas também com todas as mulheres que sonham em se tornar líder. Por isso, ela afirma que continuará fazendo parte dessa luta na Coface América do Norte.
“Minha meta é permanecer fazendo esse trabalho de diversidade e inclusão, que hoje na Coface ganha cada vez mais espaço. É uma bandeira importante a ser levantada. Trabalhamos com muitas ações dessa natureza em todas as filiais da seguradora espalhada pelo mundo”.
Embora a vida tenha feito Marcele traçar muitos compromissos e levantar a bandeira de diversidade de gênero no mercado, ela preserva um em especial que carregará para sempre no coração: o legado de dona Zeneide, uma pessoa que ensinou seus filhos a importância de um simples “bom dia” e o tamanho do impacto positivo que o ser humano pode causar na vida do outro.
Hoje, dona Zeneide pertence à outra dimensão. Sua herança foi a referência que deixou para uma das principais executivas do mercado segurador global.
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