Flexibilização do Seguro Auto publicada pela Susep no início de setembro promete deixar a carteira mais acessível e adaptada às necessidades do brasileiro
“Achei o preço um pouco alto e tive dificuldades para entender as coberturas que estava contratando”, conta Vanessa Rodrigues, de 25 anos, moradora da Zona Sul de São Paulo. Após adquirir seu primeiro carro, a professora da rede pública e privada procurou um corretor de seguros assim que saiu da loja. Após a contratação do seguro, Vanessa notou que as coberturas eram mais básicas do que imaginava e isso a deixou insegura para fazer uma viagem, por exemplo. “Apesar de ter sido bem atendida, acredito que faltou explicar melhor algumas informações que ficam nas entrelinhas”, explica.
Essa realidade não é regra, mas acontece com boa parte dos clientes de seguro auto no Brasil. Embora a carteira seja a mais popular do país, pouco mais de 30% dos veículos estão segurados. De olho nesses dados, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) publicou, no dia 1º de setembro, a Circular 639/21, que flexibiliza o seguro a fim de atender o público fora do mercado.
Para a superintendente da Autarquia Federal, Solange Vieira, essas mudanças vão proporcionar oportunidades para o setor e principalmente para os novos consumidores, como é o caso de Vanessa. “Temos trabalhado para que o seguro seja cada vez mais uma opção para que o cidadão possa se proteger e proteger seu patrimônio. Trata-se de oferecer mais acesso e possibilidade de escolhas”, afirma.
Entre as mudanças está a possibilidade de o seguro ser contratado sem a identificação exata do veículo. Sendo assim, a medida aumenta, por exemplo, o acesso a motoristas de aplicativos e condutores que utilizam carros por assinatura ou alugados. A outra novidade é a possibilidade da comercialização de coberturas de casco abrangendo diferentes riscos a que esteja sujeito o veículo. Essas iniciativas, segundo a Autarquia, permitirão maior diversificação de produtos e preços. Logo, elas passam a atender as necessidades e as preferências de diferentes consumidores.
Na análise de Regina Lacerda, CEO da Rainha Corretora de Seguros, a Circular vai aumentar a penetração do seguro auto no Brasil. “Oferecer coberturas vinculadas ao condutor e não mais a critérios baseados no valor do veículo pode trazer um público interessante. A flexibilidade na contratação vai trazer um preço mais baixo e atrair um consumidor de menor renda que está, por exemplo, optando hoje pela proteção veicular”, argumenta.
Regina destaca, porém, que haverá desafios, uma vez que o consumidor deverá estar informado sobre todas as possibilidades de segurar o seu bem e fazer parte dessa mudança, tendo a sensibilidade de contratar seguros dentro da sua realidade. “Por outro lado, as seguradoras terão um dever de casa muito grande para fazer, exigindo criatividade, inovação e foco no cliente para produzir produtos que, de fato, sejam atrativos para todos, incluindo a rentabilidade do negócio. Com menos restrições regulatórias e mais competição creio que será possível gerar um ambiente moderno que favoreça a todos”.
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Na visão da Federação Nacional das Seguradoras (FenSeg), os produtos dessa carteira eram semelhantes e o poder de barganha do consumidor era menor. Uma das preocupações da Susep é que fique claro para o cliente quando aquele produto não inclui cobertura completa, se for o caso.
“Com normas mais flexíveis, fica aberto o caminho para ampliar a base de segurados, com produtos mais ajustados às necessidades do consumidor”, analisa Antonio Trindade, presidente da FenSeg. Na interpretação do executivo, o normativo traz benefícios significativos para o segurado e para o mercado de seguros como um todo. “O ambiente regulatório mais flexível está alinhado às melhores práticas internacionais envolvendo o seguro auto. A padronização de produtos deixa de ser a forma clássica de atuação das seguradora”, completa.
Em concordância com a CEO da Rainha Corretora de Seguros, Trindade observa que a iniciativa contribui para uma proteção mais flexível que atende às necessidades dos brasileiros. “A Circular estimula a criação de novos produtos, com claro ganho de eficiência. O resultado é o aumento da competitividade e da inovação no segmento”.
Entre as novidades, a Federação também destaca a possibilidade de contratação do seguro de Responsabilidade Civil Facultativa em nome do condutor, sem a vinculação com um veículo específico. Da mesma forma, o órgão também enxerga com expectativa a contratação de coberturas parciais e a formatação de combos, abrangendo diferentes situações de risco.
Devido à mudança nas regras, a atuação do corretor de seguros na intermediação desses contratos também passará por alterações. Para Regina Lacerda, o profissional precisa, em primeiro lugar, processar dentro de si a certeza de sua relevância enquanto consultor. “Esse profissional não está fora de moda, nem fora do mercado”, pondera. Depois, segundo a executiva, o corretor precisa modernizar sua conduta pessoal, empresarial e seu modelo de negócio para agregar valor o tempo todo ao cliente.
“Fazer um novo modelo de negócio significa estar atento a comercializar outras modalidades de seguros, a parcerias, a vendas por canais digitais e a identificação de um ou dois produtos nos quais possa ser especialista”, salienta.
Leia, por fim, a 19ª edição da revista: