O Valor Econômico relata que especialistas avaliam que muitas empresas – de hotéis e companhias aéreas a indústrias – terão de pagar a conta dos prejuízos causados pelo surto de coronavírus na China. Isso porque, em geral, seguros não dão cobertura para epidemias.
As empresas devem enfrentar bilhões de dólares em perdas relacionadas ao cancelamento de eventos e viagens e ao fechamento temporário de empresas, disseram eles. O vírus, que se originou na cidade de Wuhan, obrigou companhias aéreas a cancelar voos e empresas, como Facebook e HSBC, a suspender viagens para a China.
“Para as seguradoras, a maior parte das reclamações relativas a esse surto virá de empresas, sobretudo companhias de viagens, hospedagem e eventos, seguidas das relativas a custos de mortalidade e serviços de saúde”, disse um advogado do setor de seguros de um escritório de advocacia internacional, baseado em Hong Kong. A empresa de modelagem de riscos RMS disse que ainda é muito cedo para estimar as perdas cobertas por seguros.
Critérios de exclusões
Embora algumas grandes empresas mundiais comprem cobertura para doenças transmissíveis, a maioria das apólices de seguro exclui surtos desse tipo. A medida visa manter os custos baixos, disse o advogado, que não quis ser identificado, pois não estar autorizado a falar. As seguradoras internacionais geralmente cobrem sinistros como terremotos e acidentes de avião. Entretanto, elas têm reduzido a exposição a certos riscos, como o de transportes marítimos, para evitar grandes perdas.
Vírus anteriores, como síndrome respiratória aguda grave (sars), ebola e zika, também levaram as seguradoras a serem mais cautelosas quanto à exposição. As exclusões específicas de vírus foram estabelecidas nas políticas de cobertura mais básicas, disseram fontes. A pandemia da sars, que se espalhou para 37 países em 2003, causou perdas econômicas de US$ 4 bilhões em Hong Kong. No Canadá, US$ 3 bilhões a US$ 6 bilhões. E em Cingapura, enfim, US$ 5 bilhões, segundo a corretora de seguros Marsh.
O que dizem os especialistas
Especialistas em seguros disseram à Reuters que a maioria das políticas para cancelamento de eventos não cobriria o novo vírus. “Muitas dessas companhias aéreas e hotéis ofereceram reembolsos a seus clientes”, disse Richard Coyle, chefe de financiamento de riscos e soluções não padronizadas da sede londrina da Miller Insurance. “Dessa maneira, sem um seguro adequado, as companhias aéreas e os hotéis terão de arcar com essas perdas financeiras.”
Uma política padrão para cancelamento de eventos emitida por empresas do mercado de seguros do Lloyd’s , de Londres, que tem 99 membros, e de outros lugares traz uma exclusão de “doença transmissível”, disseram corretores. As empresas compram apólices para lucro cessante junto com seus seguros patrimoniais. A ação tem o intuito de cobrir a perda de receita caso elas sejam obrigadas a fechar temporariamente. Mas é provável que essas apólices também excluam doenças transmissíveis, segundo um corretor em Londres e executivos de seguros.
“Em síntese, o setor asiático de hospedagem é um exemplo óbvio de um setor que já foi afetado. Para muitas linhas de negócios… é uma prática comum de mercado excluir o risco de um surto epidêmico”, disse um porta-voz da empresa de resseguro Munich Re.