Para especialista em seguros, Susep está na contramão do setor

Para especialista em seguros, Susep está na contramão do setor

Em artigo publicado no portal do SindSeg/SP, o advogado e consultor Antonio Penteado Mendonça afirma que o desejo manifestado pela Susep de mudar as regras do seguro de veículos para diminuir a participação das grandes seguradoras na carteira coloca a autarquia “na contramão do setor”.

Leia o artigo, na íntegra, abaixo:

A Susep pretende mudar as regras do seguro de veículos para diminuir a participação das grandes seguradoras na carteira. No mundo inteiro as grandes seguradoras de seguros gerais são as grandes seguradoras de veículos, o que coloca a autarquia na contramão do setor. Mas este não é o foco do artigo, até porque a SUSEP querer ou deixar de querer tem muito menos importância do que as profundas transformações que o setor de veículos e mobilidade em geral está atravessando no mundo inteiro.

As mudanças climáticas chegaram para valer e os países desenvolvidos estão seriamente preocupados com suas consequências. A única forma de mudar o quadro é agir consistentemente para reduzir ao máximo a emissão de gases do efeito estufa, entre os quais estão os gases emitidos pelos escapamentos de todos os tipos de veículos movidos por motores a explosão.

O resultado é que empresas fortemente vinculadas ao uso do petróleo, como Exxon-Mobil e Volkswagen, estão adotando protocolos destinados a mudar completamente sua imagem até o ano 2030. A maior produtora de petróleo do mundo pretende modificar suas matrizes energéticas e a maior fabricante de automóveis pretende ser também a maior fabricante de veículos elétricos, não apenas nos Estados Unidos e Europa, mas em países como o Brasil, onde ela começa a fornecer veículos elétricos para as frotas de distribuição de grandes empresas.

Mas não é só por esse lado que o setor se modifica. A falta de carros zero quilômetros no país mostra o aumento do peso da informática embarcada nos veículos mais modernos. Cada vez mais os computadores terão papel determinante no funcionamento dos veículos. E a falta dos semicondutores no mercado mundial expõe a dependência da indústria em relação a estes equipamentos, cuja produção foi afetada, mundialmente, pela pandemia do coronavírus.

A mudança da matriz dos combustíveis e o uso intensivo da informática seriam suficientes para colocar uma série de questões ainda não respondidas no desenvolvimento de novos seguros para veículos. Mas o quadro vai muito além. Novas formas de uso interferirão na sinistralidade e novos veículos criarão cenários inéditos para os seguradores.

Não há como impedir a diminuição do peso da importância de ser proprietário de um automóvel na forma de vida das novas gerações. Os jovens não veem o carro como um diferencial criador de status, mas como um investimento sem sentido e uma despesa desnecessária, que pode ser suprida com o seu compartilhamento, o uso de veículos de aplicativos, o uso das redes públicas de transporte e o uso de outras formas alternativas de locomoção, como bicicletas, skates, patinetes motorizados, etc.

A produção mundial de veículos já vem apresentando queda no número de automóveis anualmente comercializados e a tendência deve se acentuar. Ninguém espera uma recuperação capaz de levar o setor aos patamares de alguns anos atrás. Pelo contrário, o movimento da Ford, deixando de produzir no Brasil, é indicativo da redução do total produzido e do redesenho dos modelos fabricados por cada montadora. Além disso, é nítido o movimento de associação entre elas, destinado a ganhar escala e reduzir preços.

Para completar o cenário, a entrada em cena dos veículos autônomos já é uma realidade e o uso de drones para diferentes operações também já faz parte do mundo real.

Os desafios decorrentes são gigantescos e colocam o setor de seguros sob pressão porque suas respostas precisam ser rápidas para não deixar este gigantesco segmento socioeconômico sem proteção securitária.

O que é cada vez mais evidente é que os novos produtos precisam entrar em cena logo e que quem sair na frente levará uma enorme vantagem diante dos concorrentes. Não são apenas as seguradoras que estão se movimentando. As resseguradoras sabem que, sem sua capacidade e tecnologia, as seguradoras não podem atender o mercado e que as que desenvolverem novos contratos mais depressa levarão a maior parte do bolo.

É briga de cachorro grande. Não há espaço para amadores ou achismos. Quem errar a mão ou não fizer a lição de casa está fora do jogo. E isto vale para o Brasil também.

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