Com o objetivo de atingir potenciais consumidores de seguros, a Susep aposta no Open Insurance, normativo que será implementado gradativamente. Mais uma vez, o mercado se prepara para um novo ambiente regulatório, enquanto os corretores se questionam sobre seu papel dentro desse cenário de transformação
As iniciativas para implementar seguros personificados, acessíveis e atrativos no Brasil são mais recorrentes a cada dia. Seja por meio da Susep, o órgão regulador do mercado, ou pelas insurtechs, startups especializadas em trazer uma perspectiva inovadora para o ecossistema de seguros. Após o primeiro sandbox regulatório promovido pela autarquia federal, o Open Insurance é o próximo da fila dentro dessa onda de mudanças.
Assim como foi no sandbox, responsável em autorizar 11 startups a operarem em um ambiente mais flexível, o Open Insurance recebe críticas positivas e negativas. Esse marco regulatório será realizado em rodadas, inspiradas no Open Banking, sendo a primeira feita no dia 15 de dezembro deste ano, como aponta a Resolução CNSP nº 415/2021 e a Circular Susep nº 635/2021.
Publicada pela Susep no Diário Oficial da União no dia 21 de julho, as normas estabelecem condições para permitir que o consumidor acesse e compartilhe seus dados, quando preferir, com outras seguradoras ou terceiros. Desse modo, essas informações poderão ser utilizadas para desenvolver diferentes produtos e serviços que atendam às necessidades atuais e futuras dos consumidores de seguros, previdência e capitalização.
De acordo com a superintendente da Susep, Solange Vieira, a iniciativa terá impacto positivo na sociedade, porque simplificará o acesso à proteção. “O seguro possui uma característica ímpar no amparo financeiro a pessoas em momentos de fragilidade ou em um evento que possa colocá-las em dificuldade financeira. Para que possa ser cumprida essa finalidade, faz-se necessário que produtos de seguro alcancem a grande massa da população de forma simples, transparente e, acima de tudo, a preços compatíveis”, explica.
É bem verdade que falar sobre seguros para grande parte da população é um tabu no Brasil. O seguro auto, considerado a proteção mais popular do país, atinge apenas 30% da frota de automóveis. Já o seguro de vida ganhou capilaridade antes da pandemia, mas cresceu 26% em 2020, segundo informações da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).
Para o diretor da Conhecer Seguros, Sidney Dias, o Open Insurance é uma das várias iniciativas conduzidas pela Susep que podem ajudar na ampliação do acesso a produtos de seguros e de previdência. Entretanto, segundo o especialista, ele é apenas um dos instrumentos e, por si só, não produzirá o efeito esperado por todos.
“Penso que criar condições para que mais pessoas tenham acesso ao mercado de seguros deve ser uma das prioridades no nosso país. Há uma grande distância, hoje, entre aqueles que contam com esse tipo de proteção para suas vidas, famílias e pequenos negócios e aqueles que, por falta de conhecimento ou de condições econômicas, não conseguem ter acesso às coberturas que poderiam ajudá-los”, observa Dias.
Mesmo acreditando em outros movimentos para fortalecer a indústria, o especialista apoia a implementação do Open Insurance. “É compreensível que algumas das lideranças conservadoras deste nosso mercado estejam reticentes. Aquilo que é pouco conhecido tende a ser rejeitado, principalmente por quem está bem posicionado no mercado”.
No aspecto internacional, a iniciativa realmente ainda é pouco conhecida em países como Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália e Suíça, onde o mercado segurador é mais desenvolvido do que aqui. Enquanto isso, a Europa pretende se aprofundar sobre o tema apenas em 2022.
Daniel Bortoletto, CEO da Regula Sinistros, acredita que o Open Insurance pode atingir pessoas que hoje desconhecem a importância do seguro. Entretanto, a eficácia desse contato, segundo ele, será baixa. Isso porque, em concordância com o diretor da Conhecer Seguros, ele afirma que o poder financeiro das famílias brasileiras é um dos grandes fatores que dificultam a expansão da indústria.
“Mesmo em um país rico, mais da sua metade da população vive com apenas um salário mínimo. Temos desafios enormes como o desemprego e, antes de consumir um seguro, as pessoas pensam como vão chegar até o fim do mês”, declara o executivo.
Embora a capacidade financeira do brasileiro seja fundamental para controlar essa equação, Bortoletto reconhece que o Open Insurance vai impulsionar mudanças no mercado, tanto para o bem, quanto para o mal. “Esse marco regulatório vai promover verdadeiras revoluções nos produtos, coberturas, parcerias, distribuição e pós-venda. Nesse caminho, ele também vai estimular aberrações, assim como é normal em todo processo. O desafio está em conciliar tudo isso”.
Relação entre cliente e corretor ainda é única
Em consonância com o “seguro aberto”, está um momento muito peculiar do setor: aproximação das seguradoras com as fintechs e a maior participação de investidores de segmentos distintos na indústria seguradora. Quem analisa superficialmente pressupõe que com a presença de normas capazes de potencializar esse ecossistema, a profissão dos corretores de seguros é colocada mais uma vez em xeque.
Mas para Luis Cesar Pereira, CTO da GTI Solution, essa proximidade já resultou em diversas soluções para o mercado, fazendo com que a insegurança que existia por parte dos profissionais fosse tomada pela aceitação e confiabilidade em torno deles. “Se o corretor utilizar as soluções ao seu favor será possível continuar atendendo a toda sua demanda de clientes e, ainda, manter a eficiência no seu negócio”, pondera.
A Susep defende que inúmeras facilidades poderão surgir para os consumidores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, a partir da entrada de produtos de seguros e previdência no novo modelo. Segundo a autarquia, uma das principais facilidades será a consolidação da vida financeira do cliente.
Na análise de Pereira, o fato da contratação do seguro estar mais viabilizada nada interfere no trabalho do corretor. “Antes de chegar à solução ideal para a sua necessidade, o cliente ainda procura por mais de uma opção em sua pesquisa e, posteriormente, busca um corretor para esclarecer as dúvidas”, ratifica. Por isso, segundo o executivo, o papel consultivo que o profissional tem na venda de um seguro será o diferencial. “Num mundo altamente tecnológico, as pessoas quem fazem a diferença”, completa.
O diretor da Conhecer Seguros lembra que a pressão sobre o corretor de seguros vem sendo feita há vários anos por mudanças nos modelos de negócio. Entretanto, um técnico, na sua função de consultor especializado em riscos e seguros, sempre será necessário. Ele usa o exemplo dos seguros massificados, como o ramo de vida e o residencial, cujos já são comercializados em agências bancárias e em redes varejistas. “É pouco provável que as seguradoras tradicionais – ou as novas entrantes – efetuem, de forma relevante, venda direta aos consumidores de seguros massificados. Elas continuarão dependendo da especialização e da capilaridade de canais de distribuição”.
Outro ponto positivo em favor da atividade dos corretores é o baixo custo que é gerado para as seguradoras. As companhias não possuem vínculo empregatício com os profissionais e, em troca, recebem o benefício de sua marca ser levada para todo canto do país.
“Quando a venda é realizada por um corretor, o preço para as seguradoras é mais leve pois ela tem um especialista, muitas vezes um cativo apaixonado pela sua marca e, no pós-venda, os impactos dos sinistros poderão ser mais amenos”, destaca o CEO da Regula Sinistros. Já na venda por intermédio de outros canais, o executivo lembra que a companhia assume sozinha eventuais problemas comerciais.
A Susep colocou em consulta pública o Open Insurance em 22 de abril. Ele pode ser um grande avanço no setor desde que seja estabelecido com cautela, já que temos poucos exemplos de sucesso no exterior. No ponto de vista do executivo da GTI Solution, essa solução vem em um momento em que as pessoas estão mais sensibilizadas em ter diferentes tipos de proteção. “Ao se depararem com um modelo de contratação facilitada, torna-se mais fácil a realização de um acordo de compra, justamente pela acessibilidade e redução de burocracias”, conclui.
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